Palácio Piratini realiza requalificação paisagística dos jardins históricos

Parte integrante do complexo arquitetônico que compõe a sede do governo gaúcho, os jardins históricos do Palácio Piratini estão atualmente em etapa final de requalificação. A conclusão acontece ainda ao longo das próximas semanas com o plantio de arbustos na área que abriga a fonte A Egípcia. O projeto estava em execução desde junho de 2023 com o objetivo de dar a quatro patamares de área verde do Palácio a aparência prevista no projeto original.
Esta foi a primeira vez que um projeto de requalificação foi elaborado exclusivamente para o tratamento paisagístico dos jardins palacianos, que foram tombados, juntamente com o Palácio, em 1986, pelo Instituto do Patrimônio Histórico do Estado (IPHAE). Ao longo dos mais de 100 anos de história do Piratini, esses ambientes estiveram suscetíveis às gestões que ocuparam o Executivo, reunindo vegetações diversas, plantadas sem um critério específico. Com a iniciativa, a ideia foi criar um ordenamento que reafirmasse a importância histórica dos jardins para o projeto arquitetônico da sede do governo.
“Em função do tombamento, o tratamento dos jardins exige que sejam adotados critérios específicos, orientados para o reconhecimento do valor cultural dos espaços abertos do Palácio Piratini. Nesse sentido, a requalificação exigirá, também, ações de educação patrimonial, para conscientizar a comunidade sobre os procedimentos técnicos pertinentes aos jardins históricos”, explicou o arquiteto Leonardo Valerão.
A proposta de remodelagem foi concebida tomando como base três trabalhos anteriores: o projeto arquitetônico do Palácio, desenvolvido pelo francês Maurice Gras em 1909, que apresentava as linhas gerais dos jardins; o projeto elaborado em 1928 pelo engenheiro agrônomo Gastão de Almeida Santos, que estabeleceu o principal traçado das áreas verdes; e uma pesquisa botânica e histórica organizada pela arquiteta Maria Clara Basin e pela historiadora Liana Martins em 2015, que listava as espécies vegetais consideradas mais adequadas para uso no Piratini.
Para a construção do projeto, foi recuperado o conceito de jardim francês, presente nos projetos de Gras e Gastão. Criado no século XVII, esse estilo se caracteriza por canteiros e arbustos com limites bem definidos, criando formas geométricas regulares e reforçando a marcação de eixos e simetrias, o que permite a ênfase em pontos focais e outros elementos de interesse.
“Uma das principais diretrizes adotadas na requalificação foi dar protagonismo às obras de arte integradas aos jardins. É o caso, por exemplo, da escultura em ferro fundido A Egípcia, de autoria de Mathurin Moreau, o mais representativo artista desse tipo de arte industrial francesa. Dessa forma, o jardim retoma a linguagem presente em sua concepção original, funcionando como um elemento integrador do Palácio e ajustando-se ao acervo e aos usos contemporâneos”, completou.
A execução do projeto é feita por uma empresa especializada, que, além da recomposição paisagística, também vai elaborar um plano de conservação e manejo da vegetação. Os profissionais contratados também trocam informações com a equipe responsável pelo cuidado diário dos jardins, para que a manutenção seja feita da maneira mais adequada.
A coordenação dos trabalhos é da equipe de gestão do Complexo do Palácio. Para a reestruturação, foram seguidas as diretrizes estabelecidas pela Carta de Florença (1981), do Comitê de Jardins Históricos, e pela Carta de Juiz de Fora (2010), do I Encontro Nacional de Gestores de Jardins Históricos, considerados os dois principais documentos que orientam a atuação em jardins históricos.