O Palácio Piratini se prepara para comemorar seu Centenário
Como forma de comemorar seu aniversário de 100 anos, a sede do governo passa por uma série de ações de restauro e manutenção

Em preparação para a comemoração do Centenário do Palácio Piratini como sede administrativa do governo, a Assessoria de Arquitetura do Gabinete do Governador desenvolveu projetos, financiados por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, que visam preservar o Palácio e seu acervo. A primeira obra é a de climatização, aponta a arquiteta Maria Clara Bassin, que integra a assessoria. A Oficina de Restauro, a restauração dos murais de Aldo Locatelli e a implementação do Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndio (PPCI) também fazem parte dos planos de comemoração.
Climatização
Aguardada há aproximadamente duas décadas, a climatização do Piratini foi considerada a primeira grande obra em comemoração ao centenário por sua singularidade e pelo retorno gerado: a preservação dos murais artísticos localizados nos salões nobres e o conforto térmico de seus usuários.
A complexidade da obra justifica-se pela peculiaridade da edificação, considerando que o sistema implantado, além de climatizar grandes espaços, não tem os equipamentos visíveis nos ambientes.
O projeto visa preservar os murais de Aldo Locatelli. “A excessiva variação térmica de Porto Alegre causa danos à integridade dos murais e, através da manutenção de temperatura constante, esse acervo é melhor preservado”, explica Maria Clara.
Conservação dos bens móveis
Oficina de Restauro e primeiro lote de peças entregues
A concepção do projeto de criação da Oficina de Restauro surgiu em 2014 e é um espaço projetado e construído na sede do governo. “O objetivo é prestar serviços de conservação do acervo de bens móveis e integrados do Palácio”, explica Maria Clara. A oficina foi discutida com institutos de patrimônio histórico estadual e federal como uma ideia da Assessoria de Arquitetura para a preservação do Piratini. A conservação dos bens do local torna-se necessária por sua importância histórica e cultural. O mobiliário pertence ao acervo tombado do local.
O Piratini tem dois processos de tombamento: o primeiro em 1986, em nível estadual, e outro em 2000, em nível federal, por integrar o Sítio Histórico da Praça Matriz. Além disso, há diversas peças que foram confeccionadas pelos detentos da antiga Casa de Correção e pela empresa Jamardo e Irmãos. “Por serem peças tombadas como bem cultural e por sua significância e representatividade, precisam ser preservadas, pois contam parte da história do nosso Estado”, afirma Maria Clara.
Em 2020, começou a construção de uma edificação no penúltimo patamar dos jardins do Palácio, para abrigar a oficina.
Algumas ações de conservação desse acervo tombado iniciaram-se em 2020, com o restauro do primeiro lote do mobiliário histórico, composto de 129 peças. Esse serviço foi executado pela restauradora Adriane Machado, tendo como proponente do projeto cultural o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRS), com patrocínio do Banrisul por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (antiga Lei Rouanet). A escolha das primeiras peças a serem restauradas ocorreu por duas premissas: “peças com elevado grau de deterioração, que já apresentavam algum comprometimento da sua integridade, e peças que são utilizadas nas rotinas diárias do Gabinete do Governador e do Gabinete da Casa Civil e que necessitavam de restauro para poderem cumprir suas funções”, aponta Maria Clara.
PPCI
O Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndio (PPCI) foi elaborado em 2018 pela equipe de Assessoria de Arquitetura, sendo aprovado pelo Corpo de Bombeiros, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Além de ser obrigatório por lei em todas as edificações, nas tombadas torna-se “ainda mais importante, a fim de salvaguardar a integridade e autenticidade de todos os elementos originais do bem”, afirma Maria Clara.
A escolha pela busca por financiamento para a implementação do PPCI ocorreu devido à situação financeira do Estado. “Uma obra desse porte, que requer intervenção em bem tombado, deve ser executada por empresa altamente especializada em restauração de edificações históricas tombadas para garantir a preservação do patrimônio”, explica Maria Clara. Ainda não há previsão para o início da obra.
Restauração dos murais de Locatelli
Os famosos murais de Aldo Locatelli, ponto-chave para a justificativa do projeto de climatização do Piratini, também ganharam atenção especial na celebração do centenário. Os 23 murais fazem parte do acervo de bens móveis e integrados tombados em conjunto com o Palácio Piratini. “Por apresentarem craquelamento e descolamento da camada pictórica em algumas partes, os murais precisam de reparos”, explica Maria Clara.
As obras são tombadas tanto pela importância do pintor italiano, quanto por sua representatividade, explica a arquiteta, pois os murais contam a história de uma lenda gaúcha, o Negrinho do Pastoreio, e também a formação histórico-etnográfica do povo rio-grandense e a fundação do Estado.
Os murais estão assim distribuídos: 18 no Salão de Festas, contando a lenda do Negrinho do Pastoreio; dois sobre a formação do gaúcho, localizados no Salão Alberto Pasqualini; três estão localizados na antessala do Gabinete Oficial do Governador.
Aprovada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), o projeto foi encaminhado à Secretaria Especial da Cultura Federal, para obter autorização para captação do recurso financeiro necessário. As restauradoras responsáveis pelo projeto serão Maria Cristina Ferrony e Vivian Lockmann, e a previsão é que as obras durem seis meses.
Financiamento
Todos os projetos citados são financiados por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, em uma parceria firmada por meio de protocolo de intenções pelo Palácio Piratini e o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS). “É esse protocolo de intenções que legitima o IHGRGS para prestar consultoria ao Palácio em suas áreas de atuação”, explica Thaís Feijó, responsável do IHGRS pelo financiamento dos projetos.
O protocolo foi firmado, pela primeira vez, em 2016, durante o governo de José Ivo Sartori, com duração de 60 meses. Seu objetivo é fazer ações conjuntas para a celebração do centenário visando “à preservação, divulgação e inserção histórico-política, bem como a difusão para a população da importância cultural da sede do governo”, como consta no documento.
A parceria da sede do governo com o instituto surgiu ainda em 1860, com a fundação do Instituto Histórico e Geographico da Provincia de São Pedro, precursor do IHGRS, pelo então governador da Província, Visconde de Sinimbu, e continuou em 1920, quando Borges de Medeiros foi um dos responsáveis pela fundação do IHGRS.
Conforme as demandas do Palácio, o instituto elabora os projetos culturais, os protocola na lei de incentivo e busca financiadores. “Os projetos culturais são importantes na medida em que possibilitam a preservação dos bens materiais que fazem parte do acervo do Palácio Piratini”, argumenta Thaís.
Os projetos de climatização, de criação da Oficina de Restauro e de Restauração do Mobiliário Histórico do Palácio Piratini foram propostos pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, incentivados pelo Ministério do Turismo/Secretaria Especial da Cultura por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e patrocinados pelo Banrisul.