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III. Detalhes e Memórias

III. Detalhes e Memórias

  • Borgistas, assisistas e notícias da revolução (1923) / Acervo do AHRS

A observação dessa imagem oportuniza uma série de questionamentos. Comecemos pelo que ela nos apresenta: uma cena, em área aberta, que nos remete ao que parece ser um treinamento militar. Homens, todos com uma perna e braços à frente, realizam uma espécie de exercício ou manobra. Ao fundo, outros homens observam a cena. Nenhuma arma é visualizada. Fora dessa imagem, mas marcado na superfície da fotografia, duas inscrições: uma anotação à caneta na parte superior esquerda e, logo abaixo, uma data. A anotação fala que aqueles homens eram borgistas e passaram, em determinado momento, para o lado dos assisistas. A data assinalada abaixo, de 02 de fevereiro de 1923, indica o momento inicial do processo revolucionário. O verso dessa fotografia, porém, traz outras informações importantes. Uma nova data, um local e notícias remetidas de Paulo para Norma. Elementos que, analisados e costurados, apresentam novas e significativas tramas aos já conhecidos capítulos da Revolução de 1923.
  • Verso da fotografia / Notícias da revolução / Acervo do AHRS
  • Antonio e Manduca Rodrigues (1923) / Acervo do IHGRGS
  • Duas fotos, duas legendas e muitas informações. Possivelmente, cada uma dessas fotografias teve funções e proprietários diferentes. Na primeira ficamos sabendo que Coronel Manduca e seu amigo fazem parte das forças de General Portinho. Mas o que chama a atenção – e que possivelmente atraiu quem fez as anotações na fotografia – é a referência à idade dos dois: Coronel Manduca, na ocasião, teria 88 anos; seu amigo, o Coronel Antônio, teria 76.
  • Verso da fotografia / Acervo do AHRS

Marcas de carimbos no verso da fotografia. Uma fonte rica para analisar a trajetória da fotografia, desde sua produção até seu acondicionamento em espaços de memória. Através desses registros sabemos que essa fotografia, que depois foi reproduzida, foi realizada por Benjamin Camozato quando na produção do filme “A Revolução no Rio Grande” em 1923. Por essas marcas, se sabe, também, que estiveram no acervo do Instituto Histórico e Geográfico do RS e no Arquivo Histórico do RS, onde estão atualmente.
  • Forças revolucionárias de 1923 / Acervo do AHRS
  • Forças revolucionárias de 1923 / Acervo do AHRS
  • Outro detalhe importante e relevante na análise de documentos visuais, sobretudo fotografias, são as referências a fotógrafos e estúdios fotográficos. Em alguns casos, são os carimbos que demarcam o trabalho do fotógrafo e de seu estúdio. Em outros, marcas feitas sobre a própria fotografia ou em seu negativo, indicam essa autoria ou local de produção. A ocorrência do galo em algumas das fotografias do acervo do IHGRGS e do AHRS, bem como a referência a Bagé, apontam pistas importantes para conhecermos em maior profundidade a produção de imagens bem como espaços de sua produção no Rio Grande do Sul.
  • Coronel Fabrício Vieira (1923) / Acervo IHGRGS
  • Adão Latorre (1923) / Acervo do IHGRGS
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A importância de conhecermos a procedência dos acervos está nas impressões de quem escreve sobre as fotografias. Tanto a fotografia do Coronel Fabrício Vieira quanto a de Adão Latorre expressam o descontentamento do autor junto aos fotografados. Tal questão é de grande relevância para a pesquisa histórica uma vez que, acerca de uma mesma personagem, narrativas diversas são construídas.
DETALHES, MEMÓRIAS E PESQUISA O filósofo da arte Georges Didi-Huberman, em importante obra que analisa as relações entre imagem e olhar, assim coloca: “o que vemos só vale – só vive – em nossos olhos pelo que nos olha”. A inquietação do intelectual...

DETALHES, MEMÓRIAS E PESQUISA

O filósofo da arte Georges Didi-Huberman, em importante obra que analisa as relações entre imagem e olhar, assim coloca: “o que vemos só vale – só vive – em nossos olhos pelo que nos olha”. A inquietação do intelectual vai ao encontro da proposta – e das perturbações – causadas pelas fotografias que compõem o terceiro módulo da exposição. Ao olharmos essas imagens, elas igualmente nos olham. Nos interrogam sobre a sua própria historicidade. Cada detalhe apresentado, cada frase, fragmento ou estilhaço de memória gravado em suas superfícies proporcionam novos questionamentos e conhecimentos acerca da Revolução de 1923. Esse é o caso das identificações feitas nas fotografias, que nos indicam a procedência dos acervos bem como o entendimento de seu proprietário sobre episódios e homens da revolução. É o caso, também, dos carimbos e símbolos que aparecem sobre essas imagens. Marcas de registros, mas, igualmente, de trajetórias ao longo do tempo. Os detalhes aqui apresentados visam, sobretudo, inquietar o observador e fazê-lo perceber a potencialidade que as imagens possuem quando observam e são observadas.

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