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Aldo Locatelli, o italiano que se tornou gaúcho

Autor dos murais nos Salões Nobres do Palácio é o homenageado do mês da série Contornos

Murais do Aldo Locatelli
Formação do Rio Grande do Sul - Foto: Fernando Bueno

No subúrbio de Bérgamo, na Itália, em um local chamado Villa d’Almé, em 1915 nasceu Aldo Daniele Locatelli. O artista, que viria a ser conhecido por suas pinturas murais, teve seu primeiro contato com a arte ainda na juventude, devido à restauração de murais na igreja de seu bairro.

Encantado com a pintura, aos 16 anos ingressou nos Cursos Livres de Instrução Técnica na Escola de Arte Aplicada à Indústria Andrea Fantoni, em Bérgamo, para aprender Decoração. Em 1932, conseguiu uma bolsa de estudos na Escola de Belas Artes de Roma, e no ano seguinte voltou à sua cidade natal e ingressou no curso de Pintura na Academia Carrara de Belas Artes de Bérgamo.

Ao se formar, passou a trabalhar com a arte que o levou a ser pintor: a sacra. Poucos anos depois foi convocado pelo exército. Lutou na Segunda Guerra Mundial e, entre junho e agosto de 1939, esteve na África Setentrional. Foi liberado por pouco tempo, e em 1940 juntou-se, novamente às tropas, até ser ferido em combate e dispensado definitivamente. Seu irmão morreu em combate — razão pela qual Locatelli não gostava de pintar cenas de guerra.

De volta ao seu país e ao seu trabalho, retorna a pinturas e restaurações em igrejas. A doutora em Artes, Luciana de Oliveira, aponta que Locatelli tem uma obra muito voltada à questão da imagética cristã. Em 1945, ele instalou uma oficina em sua vila de origem. 

O Rio Grande do Sul entrou na vida de Locatelli em 1948, mas não se tem certeza de qual forma. O que se sabe é que ele foi contratado para executar os murais da Igreja de São Francisco de Paula, em Pelotas. Alguns historiadores apontam que ele veio por convite direto do bispo da cidade da época, dom Antônio Zattera, enquanto outros apontam que Locatelli foi convidado por seu amigo que havia sido contratado para realizar essas pinturas, Emílio Sessa. Luciana explica que vieram três italianos da Itália para trabalhar na igreja pelotense: Locatelli, Sessa e Adolfo Gadoni.

Locatelli pintando a catedral de Pelotas
Locatelli pintando a catedral de Pelotas - Foto: Arquivo/Luciana de Oliveira

O objetivo de Locatelli era concluir o trabalho e voltar para sua terra natal, mas o Brasil — e o Rio Grande do Sul — encantaram o artista. Com uma personalidade carismática e simples, como conta seu filho, Roberto Locatelli, o pintor teve um rápido entrosamento com a comunidade. Também compreendeu a cultura local e a incorporou em sua arte.

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A Passagem de Locatelli no Piratini

Entenda a passagem de Aldo Locatelli pelo Palácio Piratini através da pesquisa da professora e doutora, Luciana de Oliveira, autora da dissertação o Rio Grande do Sul de Aldo Locatelli: Arte, Historiografia e Memória Regional nos Murais do Palácio Piratini

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Ao definir que se estabeleceria no país, trouxe sua esposa, Mercedes, da Itália, e foi no Brasil que teve seus dois filhos: Roberto, que mora em São Paulo, e Cristiana, que reside no Acre. “O Brasil deu ao meu pai tudo o que ele mais queria: um casal de filhos”, conta Roberto. E Locatelli era muito apegado à família. Seu filho conta que ele era um pai dedicado e amoroso. Uma característica de suas obras era retratar sua família nelas. No Palácio Piratini, é possível ver sua esposa e os dois filhos na pintura O Estado.

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O Estado Riograndense - Aldo Locatelli

Compreenda o mural O Estado Riograndense de Aldo Locatelli, pela pesquisa da professora e doutora, Luciana de Oliveira, autora da dissertação o Rio Grande do Sul de Aldo Locatelli: Arte, Historiografia e Memória Regional nos Murais do Palácio Piratini

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Em 1949 foi convidado a integrar o corpo docente da Escola de Belas Artes de Pelotas. Finalizada a obra na cidade, o pintor viajou a Caxias do Sul, onde decorou os afrescos da igreja São Pelegrino. No mesmo ano, assinou o contrato para a execução dos murais do Palácio Piratini. Conforme Luciana,  não há confirmação se ocorreu um concurso para a contratação ou se foi por indicação que o pintor chegou à sede da capital gaúcha.

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Ep. 6 - As Pinturas do Palácio.mp3

Quando a nova sede do governo ainda estava em construção, o governador Borges de Medeiros iniciou a encomenda de pinturas para ornamentar os salões do Palácio. As obras nunca foram, de fato, integradas nas estruturas do Piratini. O que se tornou parte do espaço e adornou as paredes palacianas foram as pinturas murais do italiano Aldo Locatelli, que contam parte da história do estado do Rio Grande do Sul, e retratam elementos culturais e folclóricos do povo gaúcho.

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No Palácio Piratini, Locatelli é responsável por 23 pinturas murais: 18 contam a lenda do Negrinho do Pastoreio, duas representando as Artes (a primeira que tem como título Música, Literatura e Coreografia, e a segunda se chama Pintura, Escultura e Arquitetura) e mais três sobre a Chegada de Silva Paes, A Formação do Rio Grande do Sul e o Estado. O artista permaneceu pintando as paredes do Piratini de 1950 a 1955. Neste meio tempo, em 1951, foi convidado para ministrar a disciplina de Arte Decorativa na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também foi responsável por pinturas murais.

Em 1957, viaja a São Paulo, onde pinta uma série de obras para empresas particulares. De volta ao Rio Grande do Sul, no ano seguinte inicia aquela que é considerada sua obra-prima: a Via-Crúcis da igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul.

Apesar de iniciar com a arte sacra, o artista se especializou em pinturas murais de grandes dimensões, mostrando a relação entre o imigrante ou o nativo e a paisagem, passagens históricas, personalidades ou episódios da literatura local e seus heróis — como a presença de Sepé Tiaraju na obra A Formação do Rio Grande do Sul. Também tinha como temática a heroicização do imigrante no mundo novo e do gaúcho na lida campeira. Uma característica de Locatelli era fazer pesquisas aprofundadas sobre o assunto que tinha de retratar. A técnica utilizada para pintura era o óleo diluído.

Com contratos assinados e trabalhos para finalizar, Locatelli faleceu de forma precoce, aponta Luciana, em Porto Alegre, em 3 de setembro de 1962. Em razão de sua morte, parte de suas pinturas foram terminadas por seus estudantes.

Texto: Stéfani Fontanive
Edição: Vitor Necchi/Secom

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