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Dos salões da burguesia francesa à Sede do Executivo Gaúcho

O sexto homenageado pela série Contornos é Paul Milet, artista que assina parte das ânforas do Piratini

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Imagem da Igreja de Santo André, na colônia de Sèvre, na França.

Entre vasos, pedestais, miniaturas e ânforas que adornam os salões do Piratini, há um conjunto de porcelanas de Sèvres. Parte dessas peças é assinada por Paul Milet, importante ceramista francês.

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Ânfora - Foto: SAVE

No século XVIII, a porcelana era o material que adornava os salões da burguesia. Selecionadas para a confecção de objetos refinados, as cerâmicas francesas ocuparam espaços de destaque pelo mundo. A própria noção de artesanato já dava ideia de refinamento para a época. Passado um século, a produção dessas peças nos arredores de Versalhes, na comunidade de Sèvres, já ganhava um ritmo industrial. Via-se a associação entre arte e indústria na produção das cerâmicas. Em atividade desde 1756, a manufatura desses artefatos se estabeleceu nas indústrias de Vincennes e foi referência na produção de porcelanas decorativas na Europa, principalmente devido à patronagem do rei Luís XV e da Madame de Pompadour, monarcas que valorizavam as artes. Conta-se que Luís XVI, o último rei da França, presenteava os seus convidados dignitários de outros países com porcelanas de Sévres e tapeçarias de Gobelin, provando a excelência dos artigos franceses.

Sèvres foi o lugar das artes decorativas. Diversos cientistas e artistas franceses envolveram-se com o ramo, desenvolvendo melhores fórmulas e novos estilos. Destacam-se, por exemplo, o químico Jean Hallot, o pintor François Boucher e o escultor Étienne-Maurice Falconet — diretor de modelagem em Sèvres entre 1757 e 1766. No início do século XIX, após a Revolução Francesa, a manufatura voltou à atividade plena sob a diretoria de Alexandre Brongniart, período influenciado pelo Neoclassicismo e pelo desenvolvimento do estilo Napoleônico, conhecido por suas ânforas de porcelana com elegantes apliques em bronze, muito apreciadas na Europa. Em seu artigo “Um sistema comercial-cultural de importação de porcelanas de mesa francesas no Brasil do século XIX”, a museóloga e historiadora Heloisa Barbuy aponta que entre os anos de 1800 e 1847, sob a direção de Brongniart, Sèvres firmou-se como laboratório de pesquisas químicas e mineralógicas e centro de estudos sobre história das artes cerâmicas — é nesse período, em 1824, que nasce o Museu de Cerâmica. “Sèvres é a referência matricial de todas as porcelanas francesas do século XIX”, pontua Barbuy. Todas as etapas da produção das porcelanas, desde a composição da massa até a pintura e decoração final, ganhavam destaque na pequena comunidade dos subúrbios parisienses. 

No século XX, novos estilos, como o Art Déco, surgiram sob a colaboração de designers como Paul Milet e Émile Decœurt. A arte decorativa ainda ocupava os salões da burguesia europeia. Com seus formatos refinados, as porcelanas valorizavam as figuras femininas, com pinturas que procuravam imitar a realidade.  "Os objetos produzidos em Sèvres tornaram-se conhecidos pela qualidade de sua porcelana, pintada nos tons Azul Real e Rosa Pompadour, com filetes e filigranas em ouro; nos medalhões dos vasos e nas tampas de caixas, delicadas estampas com motivos cortesãos ou com cenas campestres", aponta a arquiteta do Núcleo de Conservação e Memória do Palácio Piratini, Maria Clara Bassin.

O Palácio Piratini dispõe de uma importante coleção de porcelanas de Sèvres, incluindo uma série de ânforas no estilo Neoclássico e com peças assinadas pela Manufatura Nacional de Sèvres, fundada em 1840, e pela oficina de Paul Milet. Das mais de 20 cerâmicas presentes no Piratini, 10 vêm da região de Sèvres e podem ser acessadas no acervo do nosso site. "Essas peças, além de ornamentar os belos salões da Ala Residencial , estão em perfeita harmonia com esses espaços", aponta Maria Clara.

Paul Milet

Nascido em 25 de janeiro de 1870, em Sèvres, Paul Milet aprendeu o ofício de ceramista com o pai, Felix Optat Milet. A oficina da família Milet, que assina grande parte das ânforas e das porcelanas do Piratini, se estabeleceu em 1867. O negócio começou ainda com o avô de Paul, que ensinou ao filho a manufatura de cerâmicas. Após passar mais de uma década como aprendiz, Felix se tornou o principal ceramista da empresa. Em 1879, decidido a criar o próprio negócio, ele deixou a empresa da família e passou a ensinar o ofício ao filho Paul. As cerâmicas dos Milet ganharam destaque no cenário europeu e conquistaram honrarias nas Exposições Universais Francesas, eventos culturais realizados para que os países pudessem expor suas produções e novas tecnologias. Paul morreu no ano de 1950, e a empresa permaneceu sob cuidados de seu filho, Henri Milet, até o início dos anos 70.

As porcelanas de Sèvres do Piratini datam da segunda década do século XX e seguem, ainda, ornamentando os corredores palacianos. Tombadas em conjunto com o prédio centenário, as ânforas de Milet permanecem em estado conservado e com o seu esplendor original. Algumas das peças deste acervo foram presentes e donativos de outras nações. Borges de Medeiros, em seu segundo mandato, recebeu do Rei Alberto da Bélgica uma porcelana de Sèvres. Ainda em sua governança, Borges foi presenteado pelo então Ministro Francês com outra cerâmica francesa. Todo esse acervo histórico está exposto pelos salões e salas do Palácio Piratini.

Texto: Ana Julia Zanotto
Edição: Stéfani Fontanive

Palácio Piratini